Para conseguir os efeitos de euforia, o atleta tem de praticar o exercício de forma moderada a forte por pelo menos meia hora. Por isso, quem está começando a correr demora para senti-los. É considerado um exercício de esforço moderado aquele que mantém o praticante com sua frequência cardíaca máxima entre 70% e 80%. Se o exercício for feito durante uma hora, os níveis de endorfina sobem até dez vezes no sangue.
O “barato” dura mais de meia hora após a corrida. “Isso pode variar de indivíduo para indivíduo”, afirma o professor Cristoforo Scavone, coordenador da pósgraduação em farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. “No geral, a sensação agradável vem com corridas de longa duração.” Especialista nelas, o maratonista Franck Caldeira, que não competiu na 600K mas correu diversos trechos e para incentivar e motivar os demais atletas, diz estar acostumado à euforia. “Quem não sentiu não sabe o que está perdendo e quem sentiu não quer parar mais”, diz ele. A descarga de endorfina pode ser tão forte que as emoções se misturam.
Correr 1 hora com esforço moderado a forte = dez vezes mais endorfina = sensação de euforia.
Isso explica o ânimo dos malucos, ops, dos corredores da 600K. A prova durou três dias. As largadas eram de madrugada, entre 4 e 5h. Os postos de revezamento estavam localizados, em média, a cada 7 km. Era lá que os atletas passavam uma munhequeira com um chip para o colega de equipe que seria o próximo a correr. E assim seguiam até as três linhas de chegada: uma em Maresias (litoral norte de São Paulo), outra em Angra dos Reis (litoral sul do Rio de Janeiro) e a última em Ipanema. Efeitos assim já foram percebidos pela ciência em corredores. Há pesquisas que associam os sintomas a uma crise de abstinência: irritabilidade, ansiedade, depressão e sentimento de culpa.
Segundo Scavone, essas reações não podem ser comparadas seriamente a uma crise de abstinência real de droga. “Até é possível dizer que alguém acostumado a correr pode apresentar sintomas se ficar alguns dias sem. Isso pode ser gerado por ansiedade, manifestação da abstinência”, diz o especialista. “Mas, embora os mecanismos sejam os mesmos, as perdas são diferentes das de uma droga.” O vício, afinal, é do bem.
Fonte: http://vip.abril.com.br/corpo/esportes/correr-e-uma-droga
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