Passado o susto, quis tirar da xícara de porcelana o inesperado invasor. E ao fazê-lo, admirou-se ao notar como o casulo desmanchava entre seus dedos, deixando pairar no tépido chá uma brilhante madeixa de filamentos.
Com delicadesa e paciência, a imperatriz foi desenovelando-a, e obteve como resultado um longíssimo fio de textura suave e resistente. Teve então uma idéia, reunir vários destes casulos para compor com eles um tecido.
Ajudada por engenhosos servos, foi fazendo tentativas e mais tentativas até conseguir, certo dia, tecer com aquelas fibras um manto para seu esposo, Hwang_Di, o Imperador Amarelo, um dos lendários "Cinco Imperadores da China", soberanos sábios e moralmente perfeitos.
Foi assim inventada a seda!
Mais próxima do mitológico que da realidade histórica, essa lenda ressalta, entretanto os atributos de nobreza, charme e distinção aos quais sempre esteve associado esse cobiçado tecido. E sublinha de forma poética o fato de terem sido os chineses os primeiros - e por muitos séculos, os únicos - a produzí-lo e comercializá-lo.
Com efeito, a tecelagem da seda foi durante milhares de anos um dos segredos mais bem guardados da História. Seria apenas no terceiro século da Era Cristã que a Índia conseguiria desvendar os mistérios das sericicultura, privando os chineses da exclusividade de fabricação.
No Ocidente, os comerciantes importavam avidamente da China aquele tecido lustroso e mqacio sem, entretanto, ter qualquer noção de como ele era produzido. Mas na época do imperador Justiniano I (525-565), as relações entre Bizâncio e a Pérsia, cada vez mais tensas, dificultaram a chegada de mercadorias do Oriente interrompendo a famosa Rota da Seda.
Conta-se que o soberano decidiu enviar espiões ao Extremo Oriente para desvendar o arcano da fabricação. E estes após inúmeras peripécias, conseguiram cumprir o delicado encargo, trazendo até Constantinopla alguns ovos do bicho-da-seda, acomodados em gomos de bambu para poderem resistir à longa e aventurosa viagem.
Qual terá sido a reação da refinada corte bizantina ao contemplar aquelas banais larvas que davam origem a um dos mais belos e nobres tecidos? Podemos imaginar os artitas e cortesãos, manisfestando ruidosamente seu desapontamento.
Mas é igualmente legítimo supor que esse primeiro movimento de desencanto tenha sucedido um ímpeto de admiração, ao constatarem como Deus, que povoou a natureza com seres e panoramas maravilhosos, quis ocultar a seda no rústico casulo de uma lagarta, ou a púrpura na prosaica mucosa de certos caramujos marinhos. Assim, dir-se-ia ter Ele deixado de certo modo inconclusa a obra da Criação, à espera do concuro das criaturas racionais para, por meiodelas, requintar-lhe a beleza.
Fonte: Marcos Enoc Silva Antonio
Nenhum comentário:
Postar um comentário