sexta-feira, julho 22, 2016

O Universo do Tai Chi Chuan, Roque Enrique Severino

Mestre Yang Lu Chan diz: "A essência do Tai Chi Chuan encontra-se na regulagem entre o movimento e a tranquilidade, Yang e Yin".

"O primeiro passo num bom aprendizado de Tai Chi Chuan é conhecido como o "treino da consciência". Isto se refere a repetição minuciosa de cada movimento que nos leva a transformar nossos hábitos mais primários, como por exemplo o hábito de caminhar, endireitar a nossa coluna, olhar para a frente, o gestual com as nossas mãos, entre outros.

Constantemente realizamos esses atos, porém em função dos condicionamentos psíquicos ou das emoções conflitivas, nossa expressão corporal na maioria dos casos é apenas um reflexo do caos reinante em nosso ser.

A tranquilidade surge do silêncio interior, ou seja, quando por breves segundos conseguimos parar, ou melhor, nos abstrair de nossa constante tagarelice mental. A tranquilidade física não pode coexistir se previamente não houver uma tranquilidade mental. Essa tranquilidade mental é conhecida como "meditação" - chan em chinês, zen em japonês, shine em tibetano, vipásana em sanscrito. E para obtermos tranquilidade em nossa vida, em nossos atos, em nossas palavras, será absolutamente necessário adquirir a calma mental.

Yang é sinônimo de consciência, movimento, atividade iluminada, clareza em nossas palavras e ações. Yin é sinônimo de tranquilidade, moderação, compaixão, cordialidade e respeito.

Então, ao considerarmos a regulagem entre Yin e Yang a essência do Tai Chi Chuan, temos aqui o treino que nos permite atingir a maestria entre a ação e o repouso, o duro e o suave, o vigor do golpe que ao mesmo tempo está apoiado na absoluta tranquilidade interior; quando isso realmente acontece podemos dizer que atingimos o domínio sobre o tempo e o espaço. Isso também é a essência da meditação.

Podemos tomar como exemplo o movimento dos olhos. Quando eles estão se movimentando muito rapidamente durante a prática da forma de 103 movimentos, indica muita atividade pensante, isto é, "muito movimento" interior, muita tagarelice interior, muita comparação com os nossos colegas.

A quietude então surge quando nossa mente está em paz, os nossos olhos estão sempre repousando na altura do local por onde passam as nossas mãos, que não é por acaso que sempre passam pela região do nosso coração.

Outro exemplo de quando há movimento demais em nosso interior, nossa cabeça começa a curvar-se de forma indefectível. Se formos muito críticos conosco mesmos, nossa cabeça estará sempre dirigida para baixo, já que ao sermos críticos com as nossas posturas, imediatamente sentiremos vergonha de mostrá-las; automaticamente estaremos sempre recriminando nossos movimentos e, por consequência, acabaremos errando ou nos esquecendo dos movimentos. Esse esquecimento é um esgotamento completo de nossa mente racional que simplesmente "desliga" ao não suportar tanta pressão.

Quietude neste caso é simplesmente executar os movimentos e entregar a todos os que estão observando os frutos de nosso esforço. Implica, assim, eliminar de nosso espírito qualquer sentimento de competição e de agressão interna, assim como qualquer sentimento de arrogância por nos acharmos melhores que os outros.

"Tranquilidade" significa simplesmente fazer a sequência de forma autêntica e humilde.

Livro: O Universo do Tai Chi Chuan, Roque Enrique Severino

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